Sergio Moro é o resumo de um Brasil que a gente teima em dizer que não existe, mas que se faz presente no nosso dia a dia. É o país que se imaginava no passado, aquele da Casa Grande e Senzala. Mera ilusão, Moro está aí para provar que são os medíocres do andar de cima quem realmente mandam.
Eu conheço muitas pessoas que deixaram de advogar. A principal razão deles é a decepção com o sistema jurídico. Receberam seu diploma, passaram no exame da Ordem e pensaram que estariam ajudando a sociedade a fazer justiça. No seu imaginário os maus pagavam por seus crimes e os inocentes eram absolvidos. Idealistas, eles ainda tinham em conta o Código de Ética dos Advogados, e por ele pautavam suas ações. Infelizmente a realidade logo se fez presente e com ela a desilusão com a profissão. Uma lástima que sejam eles a pularem fora abrindo mais espaço para os maus advogados.
Moro não perdeu a pose ainda. Para ele tudo pode ser relativizado. Como juiz ele nunca errou, quando muito pode ter cometido um pequeno descuido, um mero deslize, nada que possa comprometer sua ilibada conduta. Os que o acusam de conluio com o MPF exageram e deveriam estar procurando o verdadeiro criminoso, aquele que obteve suas conversas e as vazou. Matem o mensageiro.
Não há dúvidas de que a conduta de Moro não é a exceção. Como ele, juízes e desembargadores agem da mesma forma. Alguns em benefício da acusação, outros em benefício da defesa. A venda de sentenças é pratica incomum, mas existente no sistema judiciário. Toda esta sujeira sempre foi varrida para baixo do tapete. Eis que surge o The Intercept, levanta o tapete e sacode a poeira.
Agora a conduta pouco republicana de Moro precisa ser contida o mais rapidamente possível sob o perigo de se alastrar para outros membros do judiciário. Moro precisa ser sacrificado em nome do sistema e isso é o que vai acontecer. Uma vez esclarecida a má conduta dele, Lula poderá sair livre pela porta da frente. Isto vai provar que o sistema funciona e que a sujeira pode, discretamente, voltar para baixo do tapete.
Afastar Moro não muda em nada como a justiça brasileira se comporta. Os mesmos anódinos que hoje sentam no STF e no STJ, lá vão permanecer. As mesmas decisões esdrúxulas vão continuar acontecendo e isto é apenas o reflexo do que acontece na base. Cidadãos da Senzala são condenados e penas de prisão por roubarem um chocolate e assaltantes do dinheiro público, membros da Casa Grande, saem livres desfilando suas tornozeleiras eletrônicas.
Foi dado a Moro um crédito que representa bem o poder que a elite do país dispõe. Cansados de perder eleições, desta vez eles entraram para ganhar. Para isso não fizeram economias e não conferiram diplomas nem pediram atestado de bons antecedentes para ninguém. Jogaram sujo, muito sujo. Contudo, venceram.
Quando a Lava a Jato teve início em 2009, ela teve a repercussão normal de um caso de polícia. Um doleiro era preso por lavagem de dinheiro. Mas em 2013, fica-se sabendo que o dinheiro lavado vinha de propinas da Petrobrás. Em 2014 o número de envolvidos e os valores manejados já eram um assombro. Dilma cumpria seu segundo ano do primeiro mandato com as leis anticorrupção já vigentes.
Enquanto se tratou de uma investigação puramente criminal, a Lava a Jato levou a prisão inúmeros malfeitores. Mas quando em 2015, ela se politizou definitivamente, a Casa Grande viu a sua oportunidade de voltar ao poder. Tinham tudo para vencer a eleição e colocar Aécio Neves na presidência, um filho da elite, um digno representante dos interesses dos Neoliberais, aquele que acabaria com a festa da ralé. Finalmente aeroportos deixariam de ser rodoviárias aéreas, fim das filas em restaurantes e o trabalhador voltaria para o lugar de onde nunca deveria ter saído.
Foi por muito pouco, mas Dilma venceu e o sonho virou pesadelo, e o pesadelo se transformou em uma obsessão. O PT precisava ser esmagado e Dilma tinha que de ser deposta. Um plano B foi armado. Um Impeachment destituiu a presidente eleita e o vice-presidente assumiu a nação. Temer era um deles, uma raposa política que sabia tratar de política como um balcão de mordomias. Agora era a hora de terminar de vez com qualquer pretensão de entregar o poder para um trabalhador novamente.
Não foi preciso procurar muito. Ele já estava lá. Só foi preciso convencer delatores a dizerem o que queriam escutar. Se delatassem conforme o script, poderiam deixar aquelas celas e voltar para suas mansões. Até parte do dinheiro roubado poderiam ficar com eles. E assim foi. Uma denúncia de pouca relevância em 2014 contra Lula começou a ser requentada. Leo Pinheiro, preso, passa a delatar qualquer coisa que os procuradores desejassem escutar. Aceita inclusive mudar seus depoimentos de maneira a ficarem coadunados com a necessidade de envolver Lula com o triplex.
Moro ia bem no projeto de poder da elite brasileira, mas já produzia disparates que logo eram saudados e encobertos pela mídia. Assim sendo, levar Lula para depoimento de coercitivo sem nenhuma razão legal e vazar o fato para a imprensa, foi visto como um pequeno exagero sem maiores consequências, uma vez que a população acompanhava tudo pela TV em êxtase.
Tivesse naquele momento o judiciário tomado uma atitude não contemplativa, mas menos tolerantes, talvez não tivessem ajudado a alimentar o monstro. Não o fazendo, foi fácil desprezar o vazamento dos grampos envolvendo não apenas conversas familiares de Lula, mas até mesmo aquelas envolvendo a Presidenta Dilma. Eles seguiam fazendo ouvidos moucos as denúncias contra Moro.
A grande mídia, abraçou a causa. A elite agora estava com a faca e o queijo na mão, com supremo, com tudo. Lula estava preso e encarcerado. Moro o herói nacional era um juiz medíocre útil e aquela rapaziada do MPF, perfeitos para o que estava por vir.
O processo eleitoral começou e logo se viu que o povo não aceitava Alckmin, o preferido deles. Almoedo, nem com camiseta do Itaú emplacava. Só restava uma chance e ela se chamava Bolsonaro. Não seria tarefa fácil emplacar um racista, homofóbico e misógino para presidente do Brasil. Só havia uma maneira: produção de notícias falsas, fake News como ficaram conhecidas. Empresas especializadas foram contratadas a peso de ouro e logo surtiram efeito. Os ataques ao PT fizeram Bolsonaro disparar nas pesquisas e deram a ele a vitória.
Com a ajuda das Fake News de um lado, e o afastamento de Lula da corrida presidencial, graças a Moro, o caminho da presidência foi conquistado com uma diferença de 10 milhões de votos no segundo turno. Agora era hora de cumprir promessa de campanha e Moro assume o Ministério da Justiça.
Mesmo ministro, ele não deixou de ser o que sempre foi. Sua medida anticrime não emplacou no Congresso. Fez vistas grossas para o decreto sobre armas, das medidas de alteração das regras de trânsito e para completar, gostaria de baixar o imposto sobre o cigarro.
Moro e Bolsonaro se merecem. Um vai cair logo, o outro é uma questão de tempo. Ambos são produto da nossa elite. O que esta elite fez para o Brasil não pode ser esquecido, tampouco perdoado.
Fonte: brasil247
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