Ex-ministros e advogados que ajudaram em ação de impeachment reúnem-se em restaurante |
“Que
presente! Que maravilha!”, exultava a professora de Direito da USP Janaina
Paschoal, coautora do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao
entrar no restaurante Santo Colomba, nos Jardins, na última quinta-feira (3).
Lá
dentro, em torno de uma longa mesa retangular, cerca de 30 pessoas
debruçavam-se sobre exemplares da revista “IstoÉ” que trouxe detalhes da
delação do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral (PT-MS).
“Saiu
agora, é pão quentinho”, dizia o ex-ministro do Superior Tribunal Militar e
ex-deputado estadual e federal Flávio Bierrenbach.
Todos
estavam ali para mais uma reunião de um grupo formado em abril de 2015 que
escolheu o elegante e discreto restaurante italiano como sua sede informal.
São
participantes frequentes de encontros que o ex-ministro da Justiça Miguel Reale
Jr. (governo Fernando Henrique Cardoso), um de seus membros, batizou
jocosamente de “conspiratas”.
Ou
seja, reuniões-almoço cuja pauta predominante são estratégias para tirar Dilma
da Presidência, seja pela via do impeachment, seja via cassação pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
Geralmente,
os conspiradores encontram-se toda quinta-feira, enquanto degustam alguma
iguaria do exclusivo restaurante –naquele dia, arroz de pato.
“Semana
passada vieram três pessoas, na anterior oito. Varia muito. Hoje veio mais
gente por causa dessa bomba arrasa-quarteirão”, disse Bierrenbach, referindo-se
à denúncia de Delcídio na revista.
Os
frequentadores do batizado “Grupo Santo Colomba” misturam políticos
aposentados, professores de direito e advogados, a maioria de alguma forma
ligada à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.
No
dia em que foram publicadas as declarações de Delcídio, a velha guarda estava
representada em peso.
Além
de Bierrenbach, 77, e Reale, 71, dividiam a mesa Almino Affonso, 86 (ministro
do Trabalho de João Goulart), José Gregori, 85 (secretário de Direitos Humanos
de FHC), José Carlos Dias, 76 (ministro da Justiça, também de FHC) e Paulo
Egydio Martins, 87, ex-governador de São Paulo (1975-79), entre outros.
O
ex-petista Hélio Bicudo, que assina a peça do impeachment com Paschoal e
aparece de forma bissexta às reuniões, desta vez não foi.
Sua
ausência foi compensada pela participação, pela primeira vez, de outra figura
ligada a um PT que não existe mais: Tereza Rodrigues, viúva do publicitário
Carlito Maia, morto em 2002, criador de slogans para o partido como “Optei”.
Os
mais velhos emprestam um ar de solenidade ao grupo, mas há a ala jovem, também
chamada de “turma do jardim da infância”, composta por ex-alunos da São
Francisco na casa dos 40 anos.
Sua
mais conhecida representante é Paschoal, professora de Direito Penal na São
Francisco.
O
grupo não tem estrutura formal, apesar de guardar escrupulosamente as atas de
suas reuniões. Bierrenbach funciona como uma espécie de coordenador, convocando
as reuniões por WhatsApp ou ligações telefônicas, para os de mais idade.
“Aqui
é um grupo de velhos amigos de décadas, que se reúnem para discutir o país”,
diz Almino Affonso. “Mas não é só isso. Daqui podem sair iniciativas”, afirma.
Algumas
já saíram. O próprio processo de impeachment deve algo à turma do Santo
Colomba.
Impeachment
EM
BUSCA DE BICUDO
Em
11 de agosto do ano passado –Dia do Advogado e data sagrada para os acadêmicos
do Largo São Francisco– o grupo fez uma reunião excepcionalmente no Círculo
Italiano, no centro de São Paulo. Avaliaram o cenário político e, pela primeira
vez, falou-se sobre apresentar um pedido de impeachment.
Paschoal,
uma das participantes, disse que tinha algumas ideias e poderia redigir a peça.
Faltava,
no entanto, uma figura emblemática para encabeçá-la e dar maior peso político a
ela.
Bicudo,
ex-deputado ligado à defesa dos direitos humanos e com sólido passado petista,
havia muito já vociferava contra o ex-partido. De imagem pessoal inatacável,
parecia a pessoa perfeita.
Na
semana seguinte, Bicudo recebeu um telefonema. Era um emissário da professora
Paschoal, perguntando se ela poderia encontrá-lo.
“Claro,
estou em casa”, respondeu o ex-petista. A professora, que por acaso naquele
momento estava no mesmo bairro em que mora Bicudo, os Jardins, foi até lá a pé.
Conversaram longamente e ela deixou sua minuta do pedido com ele.
No
dia seguinte, veio a resposta. Bicudo tinha ajustes de redação a sugerir, mas
em geral concordava com o teor. Assinaria a peça, dando a ela visibilidade
muito maior.
Menos
de um mês depois, em 1º de setembro do ano passado, a ação denunciando Dilma
pela omissão quanto aos escândalos do petrolão e pelas “pedaladas fiscais” foi
apresentada à Câmara. Em dezembro, foi aceita pelo presidente Eduardo Cunha e
começou a tramitar.
Paschoal,
hoje, não esconde o orgulho pela peça que poderá significar a queda de Dilma.
“Esse impeachment não tem a ver com concepção ideológica que nós tenhamos de
país ou governo. Estamos falando de crimes”, diz ela.
É
nessa linha que o grupo segue: os comensais do Santo Colomba se esforçam para
mostrar que são apartidários e se unem por uma causa, a do antidilmismo. “Eu
fui líder da oposição na Assembleia contra o Paulo Egydio”, diz Bierrenbach,
apontando para a frágil figura do ex-governador. “Hoje, estamos do mesmo lado”.
Fonte:
informa1
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