terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Crítica sobre salário de vaga em anúncio gera processo



Reprodução
                        O presidente da OAB-Campinas, Daniel Blikstein

O anúncio de uma vaga de advogado cível com exigência de experiência, pós-graduação e inglês intermediário oferecendo um salário de R$ 1 mil a R$ 2 mil em um site de empregos foi o estopim para o desabafo de um advogado em uma rede social sobre a desvalorização profissional.

O comentário resultou em uma ação judicial por parte do empregador alvo das críticas por danos morais e uma série de comentários de advogados da região ressaltando o problema dos baixos salários.

Toda a situação começou em 6 de novembro, depois que o advogado Eduardo Pereira Kulaif, de 36 anos, publicou o anúncio com sua opinião contrária ao valor oferecido em um grupo fechado do Facebook, formado por 4.865 advogados de Campinas e região.

Na mensagem, em que diz ter vergonha de ser advogado e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Kulaif chama os proprietários do escritório de “exploradores” e pede que a OAB fiscalize oferta de emprego com pagamento abaixo do piso salarial.

A postagem “curtida” por 291 pessoas e dezenas de comentários favoráveis ao posicionamento fez com que o escritório movesse uma ação cível três dias depois com pedido de indenização de R$ 50 mil por danos morais e a retirada de todos os comentários a respeito do escritório no grupo e na rede social num prazo de dez dias, sob pena de multa diária de R$ 10 mil.

Menos de um mês após a publicação que suscitou as discussões, ela e todos os comentários relacionados foram deletados e uma mensagem sobre a decisão judicial foi postada por Kulaif, que fez sua contestação no processo em 19 de dezembro. A postagem teve 130 curtidas e outras dezenas de comentários em apoio a Kulaif. O processo está em andamento, à espera da réplica do escritório para a contestação apresentada por Kulaif em dezembro.

De acordo com o Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo, o valor mínimo a ser pago é de R$ 2,5 mil, para escritórios com até quatro advogados e para advogados com até um ano de OAB. Já os profissionais com um a dois anos de OAB deveriam receber pelo menos R$ 3.140, com dois a quatro anos, R$ 3.830, e com quatro a seis anos, R$ 4,7 mil.

Há 17 anos na área jurídica, Kulaif não se arrepende dos comentários. “O que eu vejo é que as pessoas que trabalham para esses escritórios, médios e grandes, têm medo de tomar qualquer atitude. Ninguém critica”, justificou.

O sócio-proprietário do escritório mencionado, Fábio Izique Chebabi, frisou que tudo não passou de uma confusão. A publicação do anúncio teria sido feita de maneira errada: era para contratação de um advogado júnior, sem necessidade de pós-graduação e, em vez de assinalar de R$ 2 mil a R$ 3 mil foi assinalado de R$ 1 mil a R$ 2 mil.
“O advogado júnior é remunerado entre R$ 2,5 mil e R$ 3,5 mil. Dentro da média de mercado da nossa região”, afirmou Chebabi.

Entidades zelam pela constante qualificação profissional
Foto: Divulgação


O presidente da OAB Campinas, Daniel Blikstein, ressaltou que a fiscalização de salário não é de competência da OAB, mas do sindicato, no entanto realiza campanhas institucionais de valorização profissional e também programas de capacitação profissional. Já para as questões de infração ética, frisou que possui uma comissão e estrutura específica.

“A questão é fundamental. A valorização do advogado é a valorização da carreira que eu também escolhi”, garantiu o presidente da subseção, que representa cerca de 11 mil advogados.

“Tenho conhecimento que (a desvalorização profissional) preocupa a categoria, tanto que na gestão anterior (2013-2015) fizemos mais de 100 eventos de capacitação, porque entendemos que quanto mais capacitados os profissionais, mais valorizada será a profissão”, completou.

Por sua vez, o presidente do Sindicato dos Advogados de São Paulo, Aldimar de Assis, afirmou que, ao ser informado das irregularidades, notifica o empregador a cumprir o disposto na Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho.

Não havendo solução para o problema apresentado, apresenta requerimento na Superintendência Regional do Trabalho solicitando fiscalização por auditor do trabalho e/ou audiência de mediação.

Se após esse processo, a irregularidade continuar, o sindicato diz que apresenta requerimento para providências ao Ministério Público do Trabalho, que então instaura um inquérito civil trabalhista ou ajuíza uma ação civil pública.

Escrito por:
Jaqueline Harumi


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