sábado, 9 de janeiro de 2016

Cientistas contestam métodos forenses usados em tribunais



Steven Mark Chaney, sentado, foi libertado da prisão depois que provas usadas contra ele foram refutadas (Brandon Thibodeaux para The New York Times)



FORT WORTH, Texas — Steven Mark Chaney, libertado da prisão em outubro depois de 28 anos encarcerado, precisou conter as lágrimas enquanto assistia à discussão entre cientistas, diante da Comissão de Ciência Forense do Texas, sobre se marcas de mordidas na pele de vítimas de assassinato e estupro podem constituir pistas válidas para identificar o agressor.

Em 1987, ele foi condenado à prisão perpétua por assassinato, depois que um perito odontológico afirmou que tinha virtualmente certeza de que os dentes de Chaney tinham causado as marcas no braço da vítima, um traficante de drogas que foi morto a facadas. Esse mesmo especialista recentemente repudiou seu depoimento como infundado. Chaney é um de mais de uma dúzia de pessoas nos Estados Unidos que foram libertadas ou inocentadas em casos em que marcas de mordidas foram usadas como prova.

A ciência forense está em turbilhão. Hoje, promotores, advogados de defesa e juízes confrontam evidências de que diversos métodos usados há muito tempo, como a análise da caligrafia e comparações microscópicas de cabelos, baseiam-se mais na tradição do que na ciência e não se sustentam sob exame minucioso. Até as impressões digitais e certos tipos de comparações de DNA não são tão precisos quanto se acreditava, segundo cientistas.

No entanto, nenhuma técnica está sendo mais contestada do que a análise de dentadas. Estudos mostraram que especialistas odontológicos não podem afirmar com certeza que um ferimento de mordida foi causado por um determinado indivíduo. Eles não podem sequer concordar de modo consistente sobre se os ferimentos foram causados por dentes.

Alguns instrumentos forenses, incluindo comparações da química de chumbo em balas ou impressões aurais de vozes, foram descartados. A precisão de supostos sinais de incêndio criminoso, como padrões de queimadura aparentemente causada por líquido, também foi contestada.

No ano passado, o FBI (polícia federal dos EUA) admitiu que seus examinadores haviam exagerado durante décadas a confiabilidade de comparações de cabelos sob microscópio.

Conforme cresce a capacidade de coletar quantidades microscópicas de DNA, percebe-se que uma única amostra pode conter material genético de diversas pessoas. Assim, os especialistas hoje dizem que uma amostra pode ser comparada com um suspeito com um grau muito menor de certeza do que se acreditava.

Um relatório divulgado em 2009 pela Academia Nacional de Ciências dos EUA foi um ponto de inflexão. Um grupo de especialistas denunciou as enormes disparidades em diversos pontos do país na qualidade dos laboratórios criminais e disse que muitos métodos não tinham sido validados cientificamente.

Enquanto algumas tecnologias, como a análise de DNA e toxicologia, tiveram origem na ciência laboratorial, disse o relatório, outras que envolvem a interpretação de “padrões observados”, como impressões digitais, marcas de ferramentas e de pneus, pegadas, mordidas e amostras de cabelo, nunca foram estudadas adequadamente.

Na recente audiência no Texas sobre evidências de mordidas, David R. Senn, do Centro de Ciência da Saúde da Universidade do Texas em San Antonio, afirmou que essas provas ainda podem desempenhar um papel em alguns casos, por exemplo, para se excluir outros suspeitos.

No entanto, a presença de Chaney na plateia foi um lembrete do que estava em jogo. “Agradeço que as pessoas peçam desculpas, mas isso não substitui 28 anos da minha vida”, disse.

Fonte: UOL

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