Fotos e postagens estão
sendo usadas pela Justiça para enquadrar quem alega não poder pagar as contas,
mas faz viagens ou anda de carro novo
As redes sociais estão
ajudando juízes a julgarem processos envolvendo devedores que alegam não ter
dinheiro para quitar seus compromissos, mas ostentam um alto padrão de vida na
internet. Há casos em que algumas provas são obtidas em redes sociais, como o
Facebook e o WhatsApp.
Um dos casos mais
recentes aconteceu em Vitória. Um representante comercial que devia pensão, mas
alegava não ter carteira assinada nem bens em seu nome, foi flagrado ostentando
viagens internacionais, passeios de lancha e um carro novo no Facebook.
As postagens foram
apresentadas, e ele acabou fazendo um acordo. O caso foi relatado pelo advogado
empresarial Victor Passos Costa, que explicou que esse tipo de prova tem sido
cada vez mais usado, especialmente nos casos trabalhistas e de família.
Em outro caso, um juiz
decretou a prisão preventiva de um réu que alegou baixa capacidade financeira,
mas apareceu no Facebook em viagens internacionais e pilotando uma lancha.
Hoje, diz ele, há diversos casos nos quais mensagens do Facebook,
WhatsApp e Skype são aceitos pelo judiciário como prova. “Isso sem falar do
e-mail, que era uma mídia de comunicação on-line desacreditada até pouco
tempo”, aponta Costa.
O juiz Jorge Vaccari Filho, titular do 1º Juizado Especial Cível de
Colatina, lembra que em muitos casos a prova obtida pela via eletrônica é até
mais relevante do que uma prova testemunhal ou documental. “Não é incomum nos
processos sujeitos que alegam pobreza serem flagrados em situações de
ostentação de riqueza, com carros de luxo, em cruzeiros e viagens
internacionais”.
Para o advogado Bruno Gavioli, essas são provas frágeis. “As pessoas
mentem nas redes sociais, e não tem nada que comprove que você não está
mentindo”.
Ele conta que teve um caso em que uma pessoa foi flagrada em operação da
Receita Federal, acusado de fraude fiscal. “Tentaram provar que o patrimônio
que ela declarava não correspondia ao que ela postava na internet. Mas foi uma
prova fraca”.
Alguns casos
Em dificuldades financeiras... ou não
Curtindo a vida
Um réu de um processo no Espírito Santo, que vive em São Paulo, alegou
baixa capacidade financeira e que havia sofrido um infarto para não poder
acompanhar o processo em Vitória. Suas postagens, no entanto, mostravam viagens
internacionais, passeios de avião, trilhas e idas à academia. Com isso, o juiz
do caso pediu sua prisão preventiva.
Viagens e lancha
Um representante comercial de Vitória, que estava devendo o pagamento de
pensão alimentícia, mas que alegava não ter carteira assinada nem bens em seu
nome, foi flagrado ostentando duas viagens internacionais, passeios de lancha e
um carro novo no Facebook. Ele acabou fazendo um acordo.
Sogro da onça
Uma mulher teve o carro penhorado mas declarou que tinha vendido o carro
para terceiro. O terceiro, questionado no processo da penhora, disse que não
conhecia a devedora, que apenas tinha comprado o carro dela. No Facebook, se
descobriu que o dono do carro era genro da devedora – o que foi provado com
fotos do próprio site. O caso aconteceu em Cariacica.
Mentira no trabalho
Doente e na balada
Em outro caso de uma empresa de construção da Serra, uma funcionária
faltou ao trabalho dizendo que estava passando mal. No mesmo dia, à noite,
postou uma mensagem dizendo que ia a uma festa curtir, se embebedar e se
divertir. Ela foi punida com advertência.
Flagra no WhatsApp
O operário de uma empresa do ramo da construção de Vitória foi demitido
por justa causa, depois de um flagra no WhatsApp. Ele faltou ao trabalho para
ir pescar e pediu a outra pessoa para registrar o ponto no lugar dele. No mesmo
dia, postou uma foto pescando no grupo de colegas da empresa, mas se esqueceu
de que sua gerente era um dos membros.
Xingou no grupo
Em um grupo do trabalho do WhatsApp, um trabalhador de Cariacica chamou
outra colega de vagabunda. Foi condenado a pagar R$ 3 mil por danos morais.
Reclamou no Face
O empregado de uma empresa de Vitória postou um “desabafo” no Facebook em
que entendia que tinha que ter ganhado um tíquete que não ganhou e que estava
de saco cheio de trabalhar na empresa. Foi demitido por justa causa.
Provas são usadas contra profissionais
Trabalhadores que mentem para os superiores ou fingem estar doentes
também têm sido pegos pelas redes sociais. Um dos casos mais comuns nas
empresas é o da pessoa que dá atestado médico e viaja. Sem querer, acaba
revelando nas redes a mentira.
“Já tive um caso em que a pessoa que trabalhava em uma empresa de plano
odontológico de Vitória deu atestado médico em uma sexta-feira e marcaram ela
em uma foto no mesmo dia, com bebida alcoólica na mão. Ela foi demitida”, conta
o advogado trabalhista José Carlos Rizk Filho.
Outro caso comum em redes sociais é do empregado falar mal da empresa
publicamente. “O que tem que se avaliar é a amplitude desse comentário, se é
público, se o círculo de relacionamentos é grande, e qual o impacto disso para
a empresa”, explica Filho. “Mas é preciso lembrar que tudo que não pode falar
em público, não pode falar nas redes. Porque, de certa forma, não é uma
conversa individual, é algo público”, detalha.
As punições no contrato de trabalho devem ser graduadas de acordo com a
gravidade da falta e o critério de proporcionalidade, diz o advogado Victor
Passos Costa. “O funcionário que durante horário de trabalho falta e fica
curtindo, deixa de trabalhar por causa disso, é o mais grave. A punição pode ir
de advertência escrita, passando por suspensão até demissão por justa causa”.
Fonte: A Gazeta
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