Paulo (nome fictício) é bancário do
Bradesco há dez anos. Funcionário exemplar, era gerente de uma agência
do interior de Pernambuco. Vinha com todas as metas batidas e boa
produtividade, apesar das dificuldades da agência.
João (nome fictício) está no Bradesco há
três anos. É lotado em Pernambuco, mas trabalha em um Posto de
Atendimento no interior da Paraíba. Paulo e João são um casal. Foram
demitidos no mesmo dia e quase na mesma hora, sem justa causa.
“Estamos certos de que foi um ato de
homofobia. Não é a primeira vez que sou tratado de maneira diferente
pelo gerente regional”, denuncia Paulo. Ele recebeu do próprio gerente
regional a comunicação de seu desligamento. Uma equipe do Sindicato
estava em visita à unidade e indagou se o motivo da demissão estaria
ligado à homofobia. Mas o gerente regional preferiu desconversar.
Pouco depois de receber a notícia, Paulo
ligou para seu companheiro. Descobriu que também ele tinha sido
desligado do banco, no mesmo dia. “No posto em que trabalho, tem apenas
duas pessoas. O gerente chegou a dizer que não queria me demitir e que
eu era um excelente funcionário. Eram ordens do gerente regional”, conta
João.
Os dois preferem usar nomes fictícios
para evitar o excesso de exposição. Mas querem que todos fiquem sabendo
sua história. “Não queremos que outros passem pelo mesmo. Não queremos
que o banco continue perpetuando esta prática de perseguir funcionários
por conta de sua orientação sexual. Trabalhávamos em unidades diferentes
e nosso relacionamento não interferia em nosso trabalho. Em quinze
minutos, tivemos que revelar às nossas famílias tudo o que vínhamos
omitindo há anos…”, desabafa Paulo.
Os dois receberam apoio da família, dos colegas e dos clientes.
Paulo – A demissão dos
dois é o auge de uma história de homofobia que não começa por aí. Há
vários anos, Paulo recebe tratamento diferenciado por parte de alguns
superiores. Nas reuniões presenciais ou por áudio-conferência, eram
sempre reservadas para ele as palavras mais duras, ainda que ele
cumprisse as metas e mantivesse a produtividade, apesar das dificuldades
da agência.
“Tínhamos três funcionários para dar
conta da demanda de seis cidades. Não tínhamos Gerente Pessoa Física nem
Gerente Pessoa Jurídica. Eu cumpria todas as funções”, relata Paulo.
Ele conta que recebeu vários e-mails
cobrando o cumprimento do orçamento, que já vinha sendo cumprido. “Eu ia
lá, conferia várias vezes a planilha e via que estávamos cumprindo
tudo. Não entendia o porquê das cobranças”, diz.
Antes de chegar à unidade em que era
gerente quando foi demitido, Paulo passou por seis outras agências,
sempre cumprindo suas funções com excelência. Mas seu pedido, de voltar
para o Ceará, nunca foi atendido.
“Quando me transferiram de Fortaleza para
Pernambuco, disseram que seria apenas por um ano. Deixei minha mãe e
família no Ceará. Anos depois desse prazo, entrei em contato com
Fortaleza e soube que havia vagas e eles me queriam lá. Mas o gerente
regional não aprovou minha transferência. Dois outros colegas
conseguiram retornar, só eu que não”, denuncia.
Em sua terra, a mãe adoeceu, com sintomas
de depressão. “Eu ia lá sempre que podia, mas era difícil. Com tudo
isso, acabei adoecendo também. Mas nem com atestados eu podia me
ausentar”, diz Paulo.
Na Paraíba, onde ele trabalhou durante
algum tempo, o funcionário não conseguia gozar nem os feriados do estado
e nem os de Pernambuco. “Lá é feriado no Dia do Bancário, por exemplo. E
só eu ficava trabalhando”, conta.
João – Paulo e João não
se conheciam quando João começou a trabalhar no Bradesco. Indicado por
um funcionário de outra cidade, ele passou por provas para contratação,
junto com outras três pessoas. Sua admissão foi decisão do Conselho de
Recursos Humanos. Mas, quando os dois começaram a se relacionar, João
optou por pedir transferência, para resguardar sua vida pessoal e evitar
qualquer interferência no trabalho.
Passou a trabalhar em um PAA no interior
da Paraíba, ainda que lotado em Pernambuco. Mas sua carteira
profissional nunca foi assinada. “Em meu posto, diziam que deveria ser
assinada pela agência de Pernambuco. Em Pernambuco, diziam o contrário”,
relata João.
Diferentemente de Paulo, João sempre foi bem tratado no posto em que trabalhava e nunca sentiu diferença. Até a demissão.
Ação do Sindicato – Segundo
a advogada Márcia Santos, que presta serviços ao Sindicato, o primeiro
passo é garantir a reintegração dos trabalhadores. Depois, os bancários
vão buscar o ressarcimento pelos danos morais na Justiça.
0 comentários:
Postar um comentário