Oscar Vilhena Vieira, diretor da escola de direito da FGV-SP |
Oscar
Vilhena, diretor da escola de direito da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo,
diz que a decisão do Supremo de autorizar a prisão a partir de decisão de segunda
instância segue um padrão internacional. "Não é um atentado à
democracia", diz o pesquisador do Supremo na entrevista a seguir.
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Folha
- Por que você é favorável à decisão do Supremo?
Oscar
Vilhena - O Supremo seguiu o padrão internacional, que é a dupla jurisdição.
Nos EUA é diferente: a prisão ocorre logo após a decisão de primeira instância.
O Brasil estabelecer um duplo grau de jurisdição não é um atentado à
democracia.
Essa
mudança não afeta o direito de defesa?
Não.
Até os anos 90 o Supremo tinha esse entendimento, de que podia se prender a
partir de decisão de segunda instância. O argumento de Teori Zavascki [ministro
que foi relator do caso] é que pode haver mais recursos, mas eles não suspendem
a execução da pena. A presunção de inocência foi afastada.
Quais
serão as consequências dessa mudança?
Os
Tribunais de Justiça nos Estados são mais conservadores do que o Supremo. Isso
tem levado o Supremo a reformar muitas decisões de segunda instância. O que
mais me preocupa, no entanto, são os 240 mil que estão presos sem julgamento. A
maioria desses presos são pobres, e o Supremo deixou essa questão intocada.
A
impunidade vai diminuir com essa mudança?
Eventualmente.
O problema maior é que o Brasil tem um excesso de presos sem julgamentos. O percentual
de condenados que têm condições para recorrer aos tribunais superiores é muito
menor do que o de presos sem condenação.
Faz
sentido que o Supremo faça essa alteração?
O
ideal seria que a mudança fosse feita por meio de uma emenda constitucional. A
Constituição fala que ninguém deve ser preso até o trânsito em julgado. O que é
o trânsito em julgado? É quando não é possível ingressar com recursos. Como o
Congresso jamais aprovaria esse tipo de mudança, o Supremo deu uma nova
interpretação a essa questão.
Fonte: folha
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