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Hollande
concede a graça presidencial a uma condenada pela morte do marido. Na França,
de dois em dois dias uma mulher morre nas mãos de um marido violento
Leneide
Duarte-Plon, de Paris*
Os
imigrantes são violentos e estupradores em potencial, alegam os que querem
fechar as portas da Europa aos refugiados. Na França e na Alemanha, a
extrema-direita tenta asssimilar os imigrantes a todos os perigos que vão do
terrorismo à violência contra mulheres.
Quem
não tomou conhecimento do fato que 800 mulheres procuraram a polícia depois do
réveillon, na cidade de Colônia, para denunciar abuso sexual e estupro da parte
de pessoas que elas disseram ser imigrantes?
O
marido de Jacqueline Sauvage era um francês autêntico, “de souche”, como dizem
os que distinguem os verdadeiros franceses dos “metecos” que foram chegando com
as diferentes ondas migratórias do século XX.
Norbert
Marot bateu em sua mulher Jacqueline e abusou sexualmente de suas filhas por
longos anos. Até que em 2012, num momento de desespero, um ato considerado
legítima defesa por aqueles que a defenderam mas contestado pela acusação,
madame Sauvage o matou. Em dezembro de 2015, Jacqueline Sauvage, de 68 anos,
foi condenada a dez anos de prisão.
O
caso emocionou grande número de franceses, chocados ao tomar conhecimento das
estatísticas: no país dos direitos humanos, de dois em dois dias uma mulher
morre nas mãos de um marido violento. São entre 120 e 130 casos por ano. Essas
mesmas estatísticas mostram que apenas 10% das mulheres que sofrem de violência
conjugal vão à polícia denunciar os maridos ou companheiros violentos.
Ao
conceder a graça presidencial, François Hollande quis que madame Sauvage voltasse
ao seio de sua família. Suas filhas depuseram a favor da mãe e comemoraram sua
próxima libertação, depois da graça concedida pelo presidente no último dia de
janeiro, um recurso que François Hollande só usara uma vez antes desse caso. A condenação de Jacqueline Sauvage mobilizou
mais de 400 mil pessoas que assinaram a petição solicitando a graça
presidencial. Jamais uma petição de apoio a uma causa obteve tantas assinaturas
em tão pouco tempo.
Entre
essas assinaturas, havia muitos homens políticos como Jean-Luc Mélenchon, líder
e fundador do Parti de Gauche, além de Daniel Cohn-Bendit, o ex-enfant terrible
de Maio de 1968.
A
prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo também assinou a petição, assim como
outras personalidades do mundo político, de direita como de esquerda.
Jacqueline
Sauvage chegou a ser levada duas vezes ao hospital, em 2007 e 2012, depois de
ser agredida por seu marido, violento e alcoólatra.
Advogados
franceses pretendem defender uma lei para introduzir a noção de “légitime défense
différée” para a reação que não se dá num momento de risco iminente de vida. O
risco de morte é permanente para as mulheres que sofrem de maus tratos,
alegam.
Norbert
Marot acordara sua mulher que fazia a sesta dando-lhe socos e ela o eliminou com
um fuzil quando ele lhe deu as costas. As filhas do casal deram apoio à mãe
durante todo o processo. Duas das três filhas sofreram abuso sexual por parte
do pai por longos anos.
*
Leneide Duarte-Plon é jornalista, trabalha em Paris e é co-autora, com Clarisse
Meireles, da biografia de frei Tito de Alencar, Um homem torturado-Nos passos
de frei Tito de Alencar.
Fonte:
cartamaior
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