Daniel
Isaia* - Correspondente da Agência Brasil
Em
pouco mais de uma semana, alunas de escolas e universidades de todo o país
enviaram para uma página do Facebook mais de 750 relatos de agressão moral e
sexual que sofreram de seus professores. Dos depoimentos recebidos, mais de 500
foram publicados, ultrapassando 16 mil
“curtidas” na rede social em apenas sete dias.
A
página Meu Professor Abusador foi criada no dia 9 de fevereiro por quatro
jovens mulheres de Porto Alegre, que concluíram recentemente o Ensino Médio,
depois que uma delas descobriu um caso de assédio na escola que frequentou.
Os
relatos publicados em Meu Professor Abusador precisam seguir algumas regras. O
nome do agressor não pode ser revelado, mas algumas características que o
tornem identificável são autorizadas. O nome da instituição de ensino em que o
fato aconteceu também é permitido. A autora tem o anonimato garantido pelas
moderadoras.
Uma
das criadoras da página concordou em dar entrevista pelo bate-papo da rede
social. Ela pediu, no entanto, que sua identidade não fosse revelada por
questões de segurança.
“Esse
projeto mexe com homens que detêm muito mais poder social e monetário do que
nós”, explicou a moderadora escolhida para a entrevista. Ela revelou que o
grupo buscou auxílio jurídico com advogadas para se proteger de possíveis
ameaças e processos.
Mesmo
assim, a entrevistada garantiu que a página está aberta a críticas
construtivas. “Estamos acostumadas, por militarmos no movimento feminista. Há,
também, os discursos de ódio, que ignoramos”.
Uma
das críticas mais frequentes diz respeito à dificuldade de comprovar a
veracidade dos relatos anônimos. “Sempre respondemos que sim, alguns poderiam
[ser falsos]. Mesmo assim, temos como segurança as mais de 16 mil “curtidas”
que comprovam que casos de abuso em sala de aula não são exceções, mas uma
realidade”.
Algumas
vezes, os depoimentos enviados para Meu Professor Abusador são, também, pedidos
de socorro de vítimas atuais de assédio. Nesses casos, as moderadoras costumam
ajudar a autora a denunciar o agressor.
“Há
um caso em particular, mais grave, em que estamos colocando a vítima em contato
com uma advogada”, revelou a entrevistada. Ela conta que chorou algumas vezes
ao ler os textos enviados para a página, especialmente quando foi possível
conversar com a autora através do bate-papo do Facebook.
“Essa
oportunidade de abrir portas para que vítimas de abuso se libertem do medo que
as aprisiona é incrivelmente engrandecedora e emocionante”, disse a militante.
O
crescimento rápido de Meu Professor Abusador na rede social superou as
expectativas das jovens, que agora planejam produzir um guia para incentivar e
facilitar o processo de denúncias formais.
“Todos
os depoimentos estão sendo arquivados, e a possibilidade de autorizar o acesso
a esse banco de dados para acadêmicos e pesquisadores simpáticos à causa não
está descartada, adiantou a moderadora.
Com
pouco mais de uma semana de dedicação ao projeto, é difícil para as criadoras
da página vislumbrarem o futuro desse espaço virtual. Por enquanto, elas
preferem comemorar os resultados dos primeiros passos dessa caminhada.
“Colocamos
as cartas na mesa, sabemos que professores abusam, e queremos fazer parte da
construção de um futuro em que isso não aconteça mais. Agora, esse assunto não
pode mais ser ignorado”, disse a entrevistada.
Bons
e maus profissionais
O
presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE),
Roberto Leão, disse que a entidade condena todo e qualquer tipo de abuso
cometido contra os alunos, mas lembrou que em todas as profissões existem bons
e maus profissionais. "No magistério, isso não é exceção. Posso lhe afirmar
que a imensa maioria dos professores são pessoas dedicadas ao serviço e que se
esforçam diuturnamente para oferecer uma educação de qualidade", afirmou.
Para
que casos de abusos sejam evitados em sala de aula, Leão reforça a importância
de professores e trabalhadores em educação estarem sempre atentos ao tipo de
relação que desenvolvem com os alunos. "Tomar cuidado com o que fala, com
as palavras que dizem, com a maneira como conversam com os alunos. Por mais que
a distância entre o professor e o aluno esteja encurtada, é sempre necessário
que se tenha cuidado ao se relacionar com os alunos. Respeito é sempre
fundamental", alertou.
Fonte:
agenciabrasil
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